sexta-feira, 12 de outubro de 2007

_2

"por que de amor
para entender
é preciso amar,
por quê?"
Dorival Caymmi

Ponta da areia
amigo, a moda agora
é meia-vida para o amor
outra metade é desamor
um não passar das horas
amar sem mar, ah

caminho no tempo
na escritura
não meça o tempo
não peça segundo
que o quebra-cabeça
não pode: estampa
a dor no estampido
na boca

maré rouca,
fica ímpar o jogo
vamos meu velho
no rumo do espelho
que atrás de nós
há um rosto que quer
um tanto vermelho
dizer a que veio
atrás, emareio
de nós, a mulher

maré ressaca,
as meninas que vão
e que vêm
nosso rumo
a frente e
mais
atrás

memória me diz
todo eterno
que amar é
maré, mareterno...

Luis Gustavo Cardoso

terça-feira, 2 de outubro de 2007

2_

Atrasaste a imagem amigo meu!
Desespero, insano, assassino, ansioso
Neste tempo Julieta não toca Romeu
Ei-la achando tudo retardado, criminoso

Olha o Gato aqui descalço
Lá, a mulher-fruto agora às 10:43
destruíste todo o tempo:
- o coelho sem relógio
- a fada bebendo uísque
- a bruxa casada está

Roubaste o verso?
Nada!
Deste-me a canhota!
Deste-me o ímpar!
O gauche como sempre fui!

Gaucheou este retrato!

Mas por tua arrogância
maltratando todo o feito
tenho uma mandinga caseira
que te livra das dores
e das mandingas caseiras
que livram de dores; ouça

Por teu estrago
a Escrita jamais veria a Pintura novamente
mas no Jardim, eu tive que apressar o canto:

"Já sei,
Será assim!
Tu pintarás em letras
E eu usarei tinta-relevo
Dos textos que tu pincelas
Nos quadros que eu escrevo"
in, Quantos cantos infantis, alguém, 1983

Mas juro!
JURO! que ponho ordem nisto aqui
num futuro eu tiro tudo pra dançar
ponho fogo no castelo
passo até na fada, o rastelo
e a gritos e facadas
com um desespero azul!,
danço com o par que é meu
MEU!
...
roubaste...
é vero
os pares...
o par.
no bar:
- garçom, on the rocks, s'il vous plait!

René Moraes

Obs: Arruinaste o quadrante todo! Símbolos estranhos.
Cosmogonia, κόσμος-γονία, cuidado. Ouve-me dessa vez.
Não preenchas mais os números...
lembra, dobrou-se o retrato.

domingo, 30 de setembro de 2007

20

"Atropelar um verso
é meter numa puta
um remorso
e um gozo"

in O alfabeta dos delírios, Luis Gustavo Cardoso, 2007.

Reflexão, ou adentro?

agora sou par
não sou mais só
habito na moça
de noite e de dia
que doce agonia
é ver-se invadida...ai

perdoa se, amigo,
dobrei a esquina, mas qual!
agora segue o ritual
o que fiz foi repetir
a figura no espelho
sou lá o devir?
o moço ou o velho?

serás vinte e um!
vinte e um!

onde andamos com desespero
há sujeira sem eira
larga a fada e a freira
e vamos ao Rio!
psiu...

somos a esfera
que ponto
quimera
espanto

melhor mulher
espasmo?
orgasmo
tanto!

Luis Gustavo Cardoso

Obs: Pela contagem imprevisível do círculo que temos traçado, é importante saber que quebrar o ritmo causa alterações naquele estranho relógio, dobra-se no 19 e tem-se 38, ficaram dois segundos ou duas imagens atrasadas até chegar a quarta casa?

terça-feira, 18 de setembro de 2007

19

No jardim:

Do amor quem corre
cai no beco de si
foge e quase morre
não é lá, nem aqui

fica em duas, despetala
com as dores suas
cinzas na sala...

Ao norte:

Não te mando, amigo, ao Ceará
de novo não, já estás!

Eis o forró e as margens
ribeirinhas da mocinha
deixa ela molhar a beira
da saia, da eia, ei-la
eira pendente sobre ti

leva um nosso samba
pois quem é bamba, é bamba
e embora ame, e embora doa
de amor mais bem amado
nunca deixa de lado
a nota aumentada
o ás de coração
e um seu violão

um verso perverso
por noites no norte
na rede há morte
há morte de amor!

Luis Gustavo Cardoso

sábado, 15 de setembro de 2007

18

Quantos vizires, duques
ocidentais, arqueduques
e arqueducados
arquedutos
caducos e desesperados
reinam fora aí?

Por aqui, sem nobreza e
mal amado
com o descompasso
compassado
vou surrando o coração

e a tua Dona Flor?
e o meu Sabonete?

que peça vazia
tem pouco desenho
vou lixar a porcaria
e surrá-la em qualquer vaga
por mais suja a fantasia
cabes no quadro
não vale o desdém
não vale o desdenho.

René Moraes

17

Pra ti:

Tenho de escrever
vou me corrigir
estive às flores demais
mar e sais, ai!
mas digo redimido
amigo, meu linho nobre
é minha pele, o violão
tu tens o dom
o dia, a duna, então
vai com a lança
e com uma flor
da coisa cuida o mundo
ai quem me dera ser vizir...
vai pro ceará que deus dará
que zeus dará o que há de vir.

Pra mim:

Vai com tudo
que eu tô mudo
quieto, sabe como é
só na cachaça
e noutro corpo...

Há tempo, é maresia
balanço tanto que já tô tonto
sou tanto mar, sou calmaria
sou turbulento, sou onda vadia
o verdadeiro desencontro

Vou te dizer: a coisa fria
esquenta dentro da gente como espanto
e é tão terna e funda e arredia...
nem cá nem lá, no canto

E digo mais, acima a consciência
que a moça põe tudo no papel,
amor, norma, pertinência...

mas sou eterno, sou aquele tropical
que se retrai, mas nunca deixa o sal
e que tem muita, muita paciência...

Luis Gustavo Cardoso

16

Olha lá, irmão meu
ando a escrever
com uma lança nas costas
posta em todo o dorso
vem da planta
sem espinhos mas muita graça
que por trás do cenário
espeta estes operários
que escrevem sem parar
As vezes, eu paro!
a fim de descanso
amigo meu...
e antes fujo ao Ceará.
entedio no estágio
trabalhos, o frio da aula
e o rigor da rotina ordinária
Fujo ao Ceará
com o arranjar
de outro estágio
outro frio mais quente
e alguém que intente
em o dia-a-dia
assassinar.

Obs: esta peça encaixa meio torto
deve ser a do canto.
Ela contorna...

René Moraes